Censo 2022: a poronga foi acesa. Para onde ir?

Redação
Operação Suçuarana reacende debate sobre a pecuarização da reserva

Na semana que findou, um fato quase passou despercebido ou não foi tão valorizado pela imprensa local, exceção feita a este site e à Rede Globo de televisão. Ambos fizeram reportagens de destaque sobre o Censo Demográfico 2022: Unidades de Conservação. O trabalho é uma poderosa ferramenta para intervenção precisa nos principais problemas existentes nas reservas extrativistas e quilombolas de todo país.

Fazendo um recorte especificamente para o Acre, é um diagnóstico que está na ordem do dia. Tratando pontualmente da Reserva Extrativista Chico Mendes, o IBGE oferece dados que podem nortear muitas ações de Estado na área. O próprio coordenador do estudo afirmou que dos possíveis 10 mil moradores da Resex Chico Mendes, entre 500 a mil estão ali de forma irregular. E algo precisa ser feito.

A Resex Chico Mendes é um mundo. São quase um milhão de hectares. Não é preciso muita imaginação para conceber que há várias “resexs” dentro da reserva. O desafio da própria política de Estado é saber reconhecer essas diferenças e tentar respeitar as identidades de cada uma delas, sempre tendo como referência o Plano de Utilização. Ele é o grande norte.

O gigantismo da Resex Chico Mendes quase fala por si. Dos 34,3 mil moradores das 11 Unidades de Conservação federais no Acre, aproximadamente 10 mil estão na Reserva Chico Mendes. São dados preciosos. Nunca o IBGE fez esse recorte. Isso precisa ser valorizado. É um trabalho de Estado, feito por servidores dedicados, gente que domina diversas áreas do conhecimento: da Estatística, da Matemática, da Geografia, da Sociologia. Tem de tudo no IBGE. Uma diversidade que respeita a pluralidade do país.

O desafio para as diversas esferas da administração pública é saber o que fazer com esses dados. Prefeitos, governadores, vereadores, deputados estaduais, federais e senadores deveriam fazer com que parte dos assessores se dedicassem a estudar os dados focando em cada região para ajudar a qualificar o debate.

Por exemplo: na sexta-feira (11), houve uma audiência pública na Aleac que tratou dos embargos ambientais no estado. É um gargalo realmente grave no Acre. O Censo 2022: Unidades de Conservação dialoga com esse problema. O IBGE apresenta luz sobre esse debate.

Se as intervenções públicas ficarem no nível que se apresentou na Aleac, ninguém vai resolver nada nunca. Vai-se ficar correndo em círculos, feito cachorro atrás do próprio rabo. O que se viu ali foi o mais do mesmo: os “pecuaristas da resex” (o que já é um contrasenso) se auto-proclamando homens honestos e trabalhadores e que não merecem ser tratados feito bandidos; satanizaram a legislação ambiental e, claro, valorizaram o fenômeno da pecuarização naquele espaço como se fosse uma atividade praticada por “vencedores”, de pessoas que querem “progredir”.

O debate pela revisão do espaço geográfico da Reserva Extrativista Chico Mendes está aberto. É até necessário. Mas enquanto aquele espaço existir como unidade de conservação, teoricamente, há regras para se estar ali. E as regras precisam ser respeitadas. Caso não sejam, o resultado será o que se viu na Operação Suçuarana, após longo processo legal.

Ninguém duvida da honestidade de ninguém. Todo mundo é honesto, até que se prove o contrário. Em nenhum momento a Operação Suçuarana modificou essa lógica. Ninguém do ICMBio disse que “todos são culpados, até que se prove o contrário”. Essa é uma retórica manipulada por políticos pelejando pela reeleição.

Existe um grupo de pessoas do ICMBio que peleja pela gestão socioambiental da Resex Chico Mendes. O Ministério do Meio Ambiente precisa fortalecer esse grupo. Ele precisa ganhar dimensão do tamanho que a reserva exige. O Censo 2022: Unidades de Conservação acendeu a poronga. É preciso escolher o varadouro correto. E é preciso fazer isso o mais rápido possível. O tempo não está mais dando tempo para nada.

Compartilhar esta notícia
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *