Com garrafas na garupa e histórias no coração, Antônio Laurentino leva leite fresco 

De porta em porta, Antônio Laurentino mantém viva a tradição do leite fresco em Rio Branco — direto da vaca para a mesa, sem perder o laço com a roça.

Antes mesmo do sol nascer, o som do motor da moto adaptada com um baú de isopor corta o silêncio das ruas. É Antônio Laurentino de Souza, 62 anos, o “Seu Antônio do Leite”, fazendo o que faz há quase três décadas: entregar leite fresco, ordenhado no dia anterior, aos clientes que confiam no sabor da origem.

Morador de uma colônia no Ramal Bom Jesus, Antônio sai de casa por volta das 4h30 da manhã. Ainda com o sereno sobre a terra, ele embala garrafas PET reutilizadas, cheias de um leite espesso, ainda morno. “Aqui é sem mistura, sem água, sem pó. É leite de verdade”, garante, com o sotaque forte e a fala mansa de quem aprendeu tudo no campo.

Seu roteiro começa nos bairros do Areal, passa pela Cadeia Velha, entra no Bosque e segue até o São Francisco. Cada parada é uma conversa rápida, uma entrega feita no portão, um “bom dia” que vale mais que mil notificações de aplicativo.

Muitos dos seus clientes são idosos que cresceram tomando leite cru e não trocam o gosto encorpado por nada industrializado. “Esse leite é outro nível. Dá pra fazer nata, coalhada, manteiga…”, conta dona Zuleide, freguesa há 11 anos.

A produção vem de cinco vacas que ele mesmo cuida. A ordenha é feita com ajuda da esposa e de um dos filhos. Quando chove muito, o barro atrasa tudo. Quando seca demais, o pasto enfraquece. Mas Antônio não reclama. “Faz parte da lida. Só peço saúde pra continuar”, diz.

Em meio à correria da cidade grande e à pasteurização das relações, ele segue firme, entregando um produto que carrega mais que cálcio: carrega memória, confiança e o gosto de quando tudo era mais simples.

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