Na Comunidade Santo Antônio, localizada na região do ramal da Transacreana, a rotina começa ainda no escuro. É antes do sol nascer que seu Raimundo Nunes, de 58 anos, já está no roçado colhendo mandioca. Ele é um dos poucos produtores da zona rural de Rio Branco que ainda fabrica tucupi de forma artesanal, mantendo viva uma tradição passada de geração em geração.
“Aprendi com minha mãe, que aprendeu com a mãe dela. Aqui a gente faz o tucupi como era feito no tempo dos antigos, com paciência, respeito e sem usar máquina”, conta ele, com as mãos ainda marcadas pela lida diária.
A mandioca brava, depois de descascada e ralada, passa por um longo processo: a manipueira escorre do tipiti e descansa por horas até virar o líquido amarelo, forte e ácido que dá base ao tacacá e a tantos outros pratos da culinária amazônica. Todo o processo leva de dois a três dias, e seu Raimundo chega a produzir 40 litros por semana.
Mercado e reconhecimento
Boa parte da produção é vendida para feirantes da capital e pequenas tacacarias que valorizam o sabor do tucupi artesanal. Cada litro sai a R$ 10 — pouco, se comparado ao esforço envolvido. “Dá trabalho, mas é o que eu sei fazer. E enquanto tiver gente querendo comida boa e de verdade, eu vou continuar produzindo.”
Apesar do valor cultural e econômico do tucupi, seu Raimundo ainda enfrenta dificuldades comuns aos pequenos produtores: falta de equipamentos simples, como prensa e decantador, acesso precário ao ramal e pouca valorização dos produtos tradicionais.
Mesmo assim, ele não pensa em parar. “É do tucupi que vem a minha renda. Mas é mais que isso — é minha história também.”