Produtor de pimenta do Ramal da Castanheira ensina política pública: “governo precisa entender”

Raimundo Cordeiro, o “Seu Raimundinho da Pimenta”, dribla a lama e a burocracia para levar aos mercados de Rio Branco molhos artesanais cheios de sabor e identidade acreana.

No alto dos seus 58 anos, o pequeno produtor Raimundo Cordeiro já perdeu as contas de quantas vezes atolou o carro carregando baldes de pimenta murupi pelo Ramal da Castanheira. “Aqui é só lama e promessa. Mas a gente não desiste. A pimenta dá, o problema é sair com ela”, resume, de botas cobertas de barro e um sorriso teimoso.

Conhecido nas feiras de Capixaba e também no Mercado Elias Mansour, em Rio Branco, como “Seu Raimundinho da Pimenta”, ele produz há cinco anos molhos caseiros com receitas que aprendeu com a mãe e aperfeiçoou com estudo e tentativa. A murupi e a bode são suas preferidas, mas ele também cultiva cumari e dedo-de-moça, tudo orgânico, sem veneno.

O molho de Seu Raimundinho é espesso, ardido e aromático. “Tem gente que pede pra mandar pro Maranhão. Um cliente meu levou pra São Paulo. O pessoal lá enlouqueceu. Só que pra crescer, precisa selo, precisa cozinha certificada, e aí complica. Pra começar, nem estrada tem”, desabafa.

Além da pimenta fresca e dos molhos, ele também vende conserva de pimenta com alho e óleo, além de uma farinha de mandioca picante que é sucesso entre os vizinhos. Toda a produção é feita em casa, com ajuda da esposa e da filha mais nova.

Para Raimundinho, o Acre tem potencial de ser referência em pimentas regionais. “Aqui o clima ajuda, o solo é bom, e o povo gosta de comida forte. Só falta o governo entender que, se melhorar ramal e abrir crédito de verdade, tem muita gente que pode crescer com dignidade.”

Enquanto isso não acontece, ele segue firme, colhendo pimenta sob o sol forte, preparando os molhos no fogão a lenha e vendendo de porta em porta, com a esperança de um dia ver sua marca estampada em prateleiras fora do estado.

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