O pacote de Lula derrubará a inflação de alimentos?

Medidas do governo para reduzir o preço dos alimentos podem ter efeito limitado diante da produção nacional e da previsão de supersafra.

Rubicleis G. Silva
Produtos básicos como arroz, feijão e carnes em um mercado, representando a inflação dos alimentos no Brasil.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimentos, e especialistas apontam que a redução de impostos pode ter efeito limitado nos preços ao consumidor. Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em um esforço para conter a inflação e aliviar o custo de vida da população, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, na quarta-feira (5 de fevereiro de 2025), um pacote de medidas voltadas à redução dos preços de alimentos básicos. A iniciativa inclui a redução do imposto de importação para diversos produtos e a ampliação de programas de subsídios à agricultura familiar. O plano foi elaborado em conjunto pelos ministérios da Economia, Agricultura e Desenvolvimento Social.

Entre as principais medidas está a redução temporária do Imposto de Importação para itens como azeite de oliva, óleo de girassol, massa, arroz, feijão, milho, trigo e leite em pó, que terão suas alíquotas zeradas por um período de seis meses. Além disso, produtos como óleo de soja, carne bovina e suína, e açúcar terão reduções significativas nas tarifas, variando entre 50% e 80%. A medida visa aumentar a oferta desses produtos no mercado interno, pressionando os preços para baixo.

O azeite de oliva é considerado um produto premium, muitas vezes importado de países como Portugal, Espanha e Itália, o óleo de girassol, embora mais acessível, ainda possui um preço elevado em comparação a alternativas como o óleo de soja, amplamente consumido no país. Essa dinâmica faz com que esses produtos sejam vistos como supérfluos ou de consumo esporádico pela maioria da população, especialmente pelas famílias de baixa renda, que priorizam itens mais baratos e essenciais no dia a dia. Consequentemente, o impacto das medidas governamentais deve ser muito baixo.

Por outro lado, produtos como carnes, açúcar, milho, arroz, feijão e soja têm uma presença consolidada na dieta do brasileiro e na economia nacional. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais desses itens, o que garante preços geralmente inferiores aos praticados no mercado internacional. Dessa forma, a redução de impostos de importação para esses produtos pode ter um impacto limitado, já que a oferta interna já é robusta e competitiva. A medida pode, no máximo, servir como uma ferramenta para equilibrar eventuais desajustes pontuais de oferta e demanda, mas dificilmente trará reduções significativas nos preços ao consumidor final, que já se beneficia de uma produção nacional eficiente e em larga escala.

Apesar das medidas anunciadas pelo governo para reduzir os preços dos alimentos, como a diminuição de impostos de importação, o impacto dessas ações deve ser limitado. Isso porque o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de itens como carnes, açúcar, milho, arroz, feijão e soja, e os preços desses produtos já são competitivos no mercado interno. Além disso, a chegada de uma supersafra, prevista para os próximos meses, tende a aumentar a oferta e, naturalmente, reduzir os preços dos alimentos, sem a necessidade de intervenções adicionais.

As medidas governamentais, portanto, são conjunturais e têm caráter pontual, visando aliviar pressões inflacionárias no curto prazo. No entanto, a médio e longo prazo, elas não devem gerar impactos significativos, uma vez que a dinâmica de preços dos alimentos no Brasil está mais relacionada à produtividade agrícola, à logística e à redução do desperdício ao longo da cadeia produtiva. Para resultados mais consistentes, é essencial investir em infraestrutura, tecnologia e políticas que combatam o desperdício, garantindo que os alimentos cheguem de forma eficiente e acessível à mesa dos brasileiros.

Por fim, o desperdício de alimentos é um problema significativo e ocorre em todas as etapas da cadeia produtiva, desde o campo até a mesa do consumidor. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e de estudos realizados por instituições brasileiras, estima-se que aproximadamente 30% de todos os alimentos produzidos no país sejam perdidos ou desperdiçados ao longo da cadeia. Isso equivale a cerca de 40 mil toneladas de alimentos desperdiçados por dia, um volume suficiente para alimentar milhões de pessoas. Este é um dos problemas que se combatido, reduzirá os preços dos alimentos no Brasil. É preciso fazer além da política econômica do dia a dia, é preciso pensar o futuro de uma nação. 

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Doutor em Economia com pós-doutorado na FGV; Professor de Economia da UFAC e Tutor do PET-Economia
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