A capacidade de armazenagem de polpas de frutas na Capital chegou ao limite. As poucas câmaras frias que têm à disposição do produtor estão abarrotadas. E o agricultor de base familiar não encontra alternativas de comercialização.
O maior consumidor é o Governo do Estado do Acre. Mas até mesmo este cliente não tem honrado compromissos. E, pior do que isso, tem comprado polpas de frutas de Rondônia e deixado o produtor local em situação cada vez mais delicada.
Quem assegura isto é a produtora do município de Capixaba e presidente da Cooperativa Agroextrativista Santa Fé (Copafe), Nilva da Cunha de Lima. Ela se recorda (inclusive com vídeos) de um episódio em que ela flagrou produtos de uma empresa acreana (mas que compra as polpas de Rondônia) sendo descarregados para abastecer a escola pública Argentina Pereira de Souza, na cidade de Capixaba.

“Isso não está correto. Nossos produtores estão sendo prejudicados. Dessa forma, o Governo não ajuda”, indignou-se a presidente. Ela credita essas compras feitas pelo Governo do Acre beneficiando produtores rondonienses a uma possível retaliação por parte da Secretaria de Estado de Educação que foi cobrada durante uma manifestação de 55 agricultores. Eles estavam há um ano sem receber do Estado pelo produto que ofereceram à merenda escolar. Só a Copafe tinha a receber do Estado mais de R$ 1,7 milhão.
Essa manifestação de produtores contou com a participação da Cooperacre, a maior cooperativa do estado. “Se o Governo está fazendo isso pensando que prejudica a Cooperacre, o governo está enganado. Porque ele está prejudicando o produtor daqui”, raciocina a presidente da Copafe.
Houve uma tentativa por parte dos produtores de Capixaba de fazer com que o governo do Estado passasse a taxar a entrada das polpas de fruta vindas de outros estados. Mas a proposta foi rechaçada pelo Governo.
O resultado disto é que os cerca de 100 produtores de frutas de Capixaba estão passando por uma crise sem precedentes. Dia 27 de fevereiro, a Copafe suspendeu compra das frutas. Deve retomar apenas no final de março. Capixaba tem se consolidado como um importante polo de produção frutífera. Maracujá, goiaba, acerola, cajá, cupuaçu e abacaxi são as principais, com destaque para o maracujá.
“Nós temos uma produção diária de vinte toneladas de maracujá”, calculou. “Outro dia, doeu no coração eu ter que negar a compra da produção de cupuaçu de um produtor. Ele chegou até a chorar. Mas eu não tenho como absorver com a situação desse jeito”.

Cooperacre dobra capacidade de armazenagem e mira mercado externo
A Cooperacre está com todas as câmaras frias lotadas de polpas de frutas. Alugou mais outras seis câmaras. Também estão lotadas. Sem a alternativa da câmara fria da antiga Cageacre, a ordem é suspender a compra do produtor.
“Por isso, no nosso planejamento, nós já iniciamos a ampliação do nosso grupo de compradores fora do Acre e fora do Brasil”, afirmou um dos diretores da cooperativa, Manoel Monteiro.
A Cooperação está em fase de instalação de mais seis novas câmaras frias com condições para dobrar a capacidade de armazenagem, atualmente, limitada a 200 toneladas. No planejamento, o investimento de R$ 40 milhões garantem a primeira fase de expansão, podendo chegar a R$ 60 milhões, caso seja necessário aumentar ainda mais.

Polpa asséptica_ As novas câmaras frias da cooperativa têm modelos diferenciado de estocagem. A tecnologia empregada garante a comercialização da polpa asséptica, que garante por até um ano e meio e armazenagem da polpa sem precisar de congelamento. “Nós estamos fazendo todo esse investimento e não podemos ficar vulneráveis completamente ao Estado”, constata Monteiro.
Governo assegura que licitação está em fase final de análise
A Secretaria de Estado de Educação e a Secretaria de Estado de Agricultura divulgaram uma nota pública para explicar o problema. Asseguraram que o processo licitatório para a compra r alimentos está em fase final de análise e homologação.
NOTA PÚBLICA
O governo do Acre, por meio das Secretarias de Estado de Educação e Cultura (SEE) e de Agricultura (Seagri), informa que o processo de aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar, incluindo frutas frescas e polpas destinadas à merenda escolar, está em fase final de análise e homologação. A Chamada Pública n.º 001/2024 está sendo conduzida conforme os prazos legais e as normativas vigentes, garantindo transparência e equidade na contratação dos fornecedores.
A equipe técnica continua empenhada na conclusão e formalização das aquisições, assegurando o atendimento às necessidades do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Em relação à disponibilização de Câmaras Frias, conforme registrado em ata de reunião realizada na Seagri, destacamos que o Governo do Estado forneceu unidades para armazenamento dos produtos. No entanto, os próprios produtores relataram que a capacidade não era suficiente para atender à totalidade da demanda, optando por buscar outras alternativas de armazenamento.
As secretarias reafirmam seu compromisso com a agricultura familiar e com a qualidade da alimentação escolar, permanecendo abertas ao diálogo e disponíveis para quaisquer esclarecimentos e encaminhamentos necessários.
Rio Branco, Acre, 10 de março de 2025.
Aberson Carvalho de Sousa
Secretário de Estado de Educação e Cultura
José Luís Schafer
Secretário de Estado de Agricultura