Veio do Juruá o fato de maior relevância para a Agricultura da região na última semana. O presidente da Cooperativa de Produtores de Café do Vale do Juruá (Coopercafé), Jonas Lima, falou o que estava engasgado na goela de muito empresário ligado à indústria cafeeira acreana. “O Governo não fez nada para proteger a indústria do Acre”, fulminou.
Bem articulado e com muita projeção em função do trabalho que desenvolve junto à Cooperacafé e ao Complexo Industrial do Café do Juruá, a declaração de Jonas repercutiu muito no meio empresarial local. Alguns vibraram muito dentro de seus escritórios; outros ficaram perplexos, sentindo-se injustiçados; outros ainda concordaram com a fala, mas, por questões de circunstâncias políticas, não puderam reconhecer publicamente o acerto do que foi dito.
Na condição de líder da Coopercafé, Jonas já tem a concepção formada de que a prioridade da produção do Juruá é o mercado acreano. O café produzido lá é embalado em indústrias de Rio Branco e tem como prioridade abastecer o mercado interno. O excedente é exportado. O itinerário é este. E, pelo Exporta Mais organizado pela Apex Brasil em Salvador há 10 dias, a Coopercafé já deixou engatilhada a comercialização para o Canadá e, possivelmente, China em 2026.
O inconveniente da fala de Jonas Lima é a verdade cristalina contida nela. Basta uma ida rápida a qualquer supermercado da Capital para se perceber como a indústria cafeeira acreana está vulnerável.
Os cafés de Rondônia, de São Paulo, de Minas Gerais, do Espírito Santo (estes dois últimos são os dois maiores produtores de café do país) abarrotam as gôndolas dos supermercados locais. Muitos desses cafés industrializados fora do Acre chegam aqui com preço de venda abaixo do custo do café beneficiado na indústria acreana. A competição é desigual. A conta não fecha e se o Governo do Acre não atentar para isto a situação só irá se agravar.
Um empresário da Capital deu a seguinte declaração ao site: “Hoje, qualquer pessoa compra embalagem, torra em qualquer lugar e coloca na prateleira. É preciso haver regularidade dos processos”, observa, antes de denunciar. “A fiscalização é rigorosa para alguns e branda para outros”.
Desde 2011, o Governo do Acre já dispõe de mecanismo legal. É a Lei de Compras Governamentais. Essa lei teve um ajuste aprovado pela Aleac esta semana. O PL é de autoria do deputado estadual Edvaldo Magalhães (PCdoB). Trata-se do Programa Estadual de Compras Governamentais de Incentivo à Indústria do Café. Pelo texto, o Governo do Acre e as prefeituras podem fazer compras regionalizadas, priorizando as indústrias cafeeiras locais.
O governador Gladson Cameli poderia aproveitar o ato de sanção do projeto de lei para repactuar compromissos com os representantes da indústria local. Seria um gesto necessário. A cena do café acreano atualmente tem uma borra amarga: o aumento exponencial da produção não dialoga com a rotina da indústria cafeeira local. “A indústria não comemora esse crescimento da produção”, diz outro empresário do setor industrial.
O PL proposto pelo deputado Edvaldo Magalhães dialoga com a polêmica ideia de “Estado Empreendedor”; divide o espaço geográfico em regiões e oferece, ao poder público estadual, a possibilidade de compra de café produzido naquele lugar. É um ciclo. “Ah… mas o café que vem de fora é mais barato!”, apressam-se alguns.
O critério “menor preço” também é rebatido por Jonas Lima na entrevista a este ac24agro. “Isso tem um custo social alto, grave. Se essa situação persistir, por exemplo, a indústria do Acre vai começar a falar em demissões. E aí? Quem vai pagar por isso? Isso é barato? Isso acaba saindo muito caro ao próprio governo”.
Por esta fala, percebe-se, portanto, que o Programa Compras Governamentais precisa de um ajuste refinado dentro do próprio Governo. Ou será que só vai acordar para o problema quando vier o ensaio das primeiras demissões no chão de fábrica?
O setor industrial também poderia aproveitar o amargo da cereja. O setor precisa se articular mais. São necessários números. É necessária uma “fotografia” clara, cristalina que apresenta publicamente quantos empregos a indústria cafeeira gera diretamente, quanto de impostos paga para o Governo do Acre, para as prefeituras, para o Governo Federal.
A indústria cafeeira precisa dizer e mostrar o tamanho econômico real do setor até como uma forma de pressão ao governo. O cidadão precisa, por esses números, ser convencido de que o Governo do Acre não está sendo razoável em não priorizar a defesa desta indústria específica. O fato é que, por enquanto, o café especial, com notas de satisfação e regozijo, só está sendo sentido por uma parte da cadeia produtiva. O setor industrial, por enquanto, está tomando “café de guerra”.
