É bom o agricultor se preparar: o ano de 2026 não será para amadores. O que economistas e analistas projetam para o ano que vem é um cenário “desafiador”. O adjetivo é quase um eufemismo, uma palavra menos grave, para amenizar o peso daquilo que será real: o ano será muito difícil. É o que se projeta.
Resumindo: uma premissa importante é a taxa de juros básica da economia. O que se tem de expectativa (a mais otimista) é que se mantenha em 15% com perspectiva de redução a, no máximo, 12,75% em dezembro do ano que vem. Isso quer dizer que será o ano inteiro no limbo da maior taxa de juros da história do país.
Só por essa referência, é possível prever como será difícil ter acesso a crédito, por exemplo. Digamos que “o dinheiro vai permanecer mais caro”, apesar de toda a propaganda em torno do Plano Safra 2025/2026. Essa referência de análise (taxa de juros) é importante porque contamina tudo o mais. A partir dela, muita coisa não acontece nas lavouras. E o desempenho do país pode ficar, efetivamente, comprometido.
Os economistas também lembram que 2026 é um ano eleitoral. Sendo assim, a expectativa é de piora (ou, no máximo, de manutenção) do atual quadro fiscal. Traduzindo para o português: em ano eleitoral, o Governo tem a tendência a ser mais gastador. As contas públicas têm a tendência a ser maiores do que aquilo que se arrecada. É o que dizem os economistas. É uma projeção. Se isso vai acontecer ou não, ninguém sabe. É uma perspectiva.
Apesar disso, a Agropecuária insiste. Com o cenário macroeconômico rapidamente esboçado acima, a sangria na lavoura deve ocorrer. Por quê? Porque a margem (lucratividade) deve ficar apertadíssima. Com silos cheios, preços estáveis e custos maiores não há margem que aguente. E se o agricultor tiver área arrendada, aí é que a coisa complica de fato. Fala-se, nesses casos, até em “margem negativa”. Em linguagem de boteco: “o agricultor paga para trabalhar”. A imagem de 2026 está tendo essa luz.
O mercado de proteína animal é o menos desolador. Tradicionalmente, em ano de Copa do Mundo, o consumo de carne aumenta. Pressionado pela demanda, os preços podem ter uma melhora.
Aqui no Acre, especificamente, o cenário é muito mais modesto. A agenda aqui ainda é de um contexto de indefinições em problemas mais básicos. Dificilmente, o ciclo vai sair da ciranda: regularização fundiária, embargos ambientais, infraestrutura rodoviária (ramais), crédito e “pauta do boi”. No Acre, a agenda deve permanecer esta.
Com destaque para esse problema da “pauta do boi”. Ou o governo intervém com qualidade nesse embate, ou o cenário vai ficar bem complicado, sobretudo para a indústria. Até agora, a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) tem minimizado o ambiente tenso. A Sefaz, na verdade, tem mantido uma postura blasé, quase entendiada, mesmo sabendo que no acumulado de 2025, saíram do Acre quase 353 mil cabeças de gado para serem abatidas em outros estados. Este espaço já tratou deste assunto em outra ocasião e mantém a defesa de que a “pauta do boi” é menos um assunto para a Sefaz e mais uma agenda do Gabinete Civil. É um assunto que deveria ser da decisão do próprio governante. É a política que vai equalizar esse debate. Não será a contabilidade pública.
Como se percebe, 2026 exige coração bom e braços fortes.
