O seminário de inovação tecnológica “Substituir Plástico por Bambu”, organizado pelo Ministério do Comércio da República Popular da China, no âmbito da cooperação Sul-Sul entre China e Brasil, que é uma parceira estratégica que visa promover o desenvolvimento sustentável e combater as mudanças climáticas, deixa claro um alerta crucial: a necessidade de o Brasil transcender a mentalidade da Revolução Industrial e abraçar a emergente Revolução Ecológica, tal como já preconizado pela China. Para o Acre, essa mudança de paradigma representa a chance ímpar de transformar sua vasta riqueza natural em um motor de desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
A substituição estratégica do plástico por esta matéria-prima milenar não é apenas uma alternativa; é uma urgência econômica que espelha as transformações globais. Enquanto o mundo ainda se recupera dos legados da era do petróleo, a inspiração vem da China, que já está reescrevendo seu futuro econômico.
A China e a Visão Pós-Carbono
O gigante asiático não busca mais apenas o crescimento industrial, mas sim a Revolução Ecológica. Suas metas climáticas – pico de emissões até 2030, redução de 20% até 2035 e neutralidade até 2060 – são sustentadas por um arsenal de normas e políticas focadas na transição energética e na eliminação de poluentes. Nesse contexto, o bambu emerge como vetor estratégico para descarbonizar a cadeia produtiva, substituindo insumos de alto impacto ambiental.
O gigante desperta: o mercado que o Acre pode capturar
Do ponto de vista produtivo, o bambu abre um mercado com potencial para superar setores tradicionais. O modelo chinês, que gera aproximadamente R$ 10 mil de receita média por hectare/ano para o produtor com seu cultivo em larga escala predominantemente de bambu gigante Moso, para abastecer a indústria, serve de referência imediata. Esse volume de matéria-prima sustentável abastece uma cadeia global projetada para movimentar US$ 121,81 bilhões anuais até 2030. Para o Brasil, e em especial para o Acre, essa oportunidade é iminente.
Inovação do campo à indústria: a bioeconomia acreana
A Revolução Ecológica exige que todos os elos produtivos sejam repensados. No campo, o bioplástico de bambu para agricultura já se destaca ao promover a eliminação de defensivos e a rápida decomposição (menos de 120 dias), o que se traduz em ganhos financeiros diretos para o produtor de culturas anuais tradicionais do estado como banana, mandioca, milho, dentre outras, sem deixar o passivo ambiental.
No Acre, a chave para a transformação reside em suas florestas nativas, que abrigam mais de 700 mil hectares de Guadua angustifolia e Chacoenses, e 3,9 milhões de hectares de Guadua weberbaueri (Taboca). A visão regional deve ser a de aplicar usos distintos para maximizar o retorno:
- Guadua angustifolia: Seu potencial estrutural permite a fabricação de decks, conglomerados e de outros elementos de alto valor agregado para o mercado de construção civil e design.
- Guadua weberbaueri, espécie predominante no estado: Serve como matéria-prima para a produção de placas e compósitos industriais, e ainda com a utilização de resíduos industriais para a produção de pequenos objetos para cozinha, plásticos biodegradáveis ou para a geração de carvão ativado, com forte demanda no comércio exterior.
O chamado: de floresta nativa à cadeia de valor
A lição do seminário é clara e ressoante com a proposta de Revolução Ecológica: o recurso existe, mas falta a infraestrutura, adaptação de pesquisas já desenvolvidas e apresentadas pelo INBAR – International Bamboo and Rattan Organisation, que é uma organização intergovernamental ligada ao governo chinês, que tem a missão de promover o desenvolvimento sustentável utilizando bambu e o cipó, na oportunidade do Seminário para a realidade local do estado. O próximo passo para o Acre a meu ver é domesticação da produção, atrás do estabelecimento de um sistema de cultivo de bambu que garanta uma escala mínima e constante de oferta de matéria-prima para os diversos segmentos industriais que o utilizariam como matéria prima para as suas respectivas transformações, somente assim a floresta de bambu amazônica deixará de ser um potencial subutilizado e se consolidará como a base de uma nova e robusta cadeia de geração de receita para a região. O futuro verde do Brasil está plantado no solo amazônico.
(Texto de Márcio Muniz Albano Bayma/Embrapa-AC)
