Cooperxapuri fortalece cooperativismo sustentável na Resex Chico Mendes

Com sete anos de resultados positivos, cooperativa aposta na diversificação e na valorização do extrativismo amazônico

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Extração de látex em seringueira: atividade industrial da borracha se concentra em estados do Sudeste, com impacto periférico no Acre.

A Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (Cooperxapuri) vem se firmando como um exemplo de organização produtiva e sustentabilidade na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. Fundada em novembro de 2018 com pouco mais de vinte cooperados, a instituição reúne hoje cerca de 260 associados e atua em diversas cadeias produtivas, combinando tradição e inovação em favor das comunidades extrativistas. 

Diversificação e sustentabilidade como pilares

A Cooperxapuri tem como principal produto a borracha nativa, exportada para a empresa francesa Veja, que a utiliza na produção de palmilhas e solados de calçados. O segundo produto mais relevante é a castanha-do-brasil, comprada pela cooperativa e beneficiada pela Cooperacre, central da qual é parceira. Além disso, a cooperativa comercializa frutas regionais, que são processadas em polpas e revendidas localmente, e desenvolve projetos com novos produtos como cacau e café, ambos em fase de expansão.

Segundo o presidente da cooperativa, Sebastião Aquino, a meta é “organizar a produção em quantidade e qualidade, garantindo que cada família trabalhe com quatro ou cinco produtos para manter renda o ano inteiro”. Atualmente, mais de 10 mil pés de cacau já estão plantados, e há mais de 100 mil mudas de café em desenvolvimento .

Gestão enxuta e parcerias estratégicas

A gestão da Cooperxapuri é conduzida de forma simples e eficiente, com três diretores e um conselho fiscal. O próprio presidente acumula funções administrativas para reduzir custos. A cooperativa mantém contabilidade terceirizada pela Cooperacre e dispõe de um planejamento estratégico apoiado pela agência alemã GIZ.

Mesmo diante das dificuldades de acesso a crédito e assistência técnica, a cooperativa acumula sete anos de resultados financeiros positivos. “Hoje somos totalmente independentes, com saúde financeira tranquila e sem conflitos internos”, afirma Aquino. As sobras anuais são reinvestidas na própria estrutura e nas atividades produtivas .

Desafios e perspectivas

Entre os principais desafios estão o escoamento da produção, especialmente de castanha, e a falta de infraestrutura de armazenamento de frutas. A cooperativa reivindica apoio do poder público para implantação de câmaras frias e melhoria dos ramais de acesso às comunidades, sobretudo no período chuvoso.

Outro ponto crítico é o acesso ao Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), considerado essencial para valorizar o trabalho das famílias que preservam a floresta. “Ainda não conseguimos acessar um PSA que contemple todos os produtos. Esse é o passo que falta para fortalecer de vez o extrativismo sustentável”, destaca o presidente .

Resistência e legado

Com atuação voltada à sustentabilidade, a Cooperxapuri adota protocolos de produção que garantem rastreabilidade e conformidade ambiental, além de monitorar o uso da terra pelas famílias cooperadas. A cooperativa também busca atrair jovens e mulheres para o extrativismo, tornando a atividade mais rentável e reconhecida socialmente.

O pesquisador Orlando Sabino, autor do estudo O “novo” cooperativismo na Reserva Chico Mendes, ressalta que o caso da Cooperxapuri ilustra uma transformação profunda no modelo cooperativista amazônico. “O cooperativismo agroextrativista não é apenas uma alternativa econômica, mas um ato de resistência cultural e política frente à exploração predatória da Amazônia”, afirma .

Com parcerias sólidas, visão de futuro e compromisso com a floresta, a Cooperxapuri mostra que é possível gerar renda e conservar o meio ambiente, reafirmando o papel do Acre como referência nacional em cooperativismo sustentável.

Texto: Andréia Oliveira

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