Integração com Peru pauta encontro de indígenas no Rio Amônia

Projetos de infraestrutura, sejam rodoviários ou ferroviários, para integração econômica com Pucallpa, mobilizaram boa parte dos debates na Comunidade Nativa Sawawo Hito 40

Lideranças contestaram em Lima projetos de infraestrutura de integração entre Acre e Peru (Foto: OPIRJ/ Divulgação)

Representantes de 13 comunidades indígenas de 28 territórios debateram o que os governos brasileiro e peruano estão formulando de política pública que pode impactar o modo de vidas das comunidades. Os debates integraram o 9º Encontro da Comissão Transfronteiriça Alto Juruá/Jurua/Alto Tamaya (CT), realizado na Comunidade Nativa Sawawo Hito 40, localizada na região do Rio Amônia.

É uma instância de discussão de muita relevância porque reúne lideranças dos dois lados da fronteira. “Esta área estratégica é vital tanto para a preservação das culturas indígenas quanto para a proteção ambiental da região amazônica”, pontua um material de divulgação da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj), um dos organismos de representação de um dos povos da região.

“A proposta de construção de uma estrada entre Pucallpa (Peru) e Cruzeiro do Sul (Brasil) foi um dos principais temas abordados”, afirma a Opirj. As lideranças indígenas entendem que esse tipo de projeto precisa, necessariamente, contar com a participação e com o aval dos povos que serão impactados com as obras.

“Líderes indígenas e advogados discutiram a falta de consulta prévia das comunidades, alertando para os impactos socioambientais da obra, como o desmatamento, contaminação dos rios e a entrada de atividades ilegais nas áreas indígenas”, relata o documento.

Entre os dias 6 e 11 de junho, a Comissão Transfronteiriça foi a Lima e expôs a situação. A constatação, já diagnosticada pelo grupo, é de que esses grandes projetos de infraestrutura ameaçam as nascentes dos rios, regiões sagradas para as comunidades indígenas.

“Além disso, a invasão de territórios indígenas por empresas madeireiras e a presença crescente de narcotraficantes foram destacados como desafios críticos. Essas ameaças colocam em risco não só os territórios, mas também a sobrevivência e a dignidade dos povos indígenas da região”, afirma a Opirj.

O que disseram os líderes

Francisco Piyãko (OPIRJ): “Os Povos Originários nunca estiveram tão unidos. O mundo precisa refletir sobre nossa luta que é pela sobrevivência da humanidade”. “Estamos nos preparando para levarmos nossas reivindicações a COP 30 em Novembro em Belém, espero não ser um constrangimento, o mundo precisa nos ouvir”.

Jamer López (ORAU): “Água e terra são vitais. O Estado precisa reconhecer nossa existência e criar políticas que fortaleçam nossos territórios. Se perdermos nossa cultura, o território ficará desolado”. Ele critica a atuação de órgãos como OSINFO e SERFOR, que não fiscalizam concessões ilegais. “É preciso revisar essas normas e desconcessionar áreas invadidas.”

Arlindo Ruiz (Comunidade Dulce Gloria): “Nossa floresta não está à venda. O Estado deve proteger os rios e fronteiras, não trazer conflitos.”

Wewito Piyãko (Apiwtxa-Brasil): “Decidimos proteger as nascentes no Peru porque essa água é vital. Não vamos esperar que destruam nossas árvores e lugares sagrados.”

María Elena Paredes (Sawawo Hito 40): “Denunciamos crimes na fronteira, mas isso nos coloca em risco. Queremos diálogo com os governos.”

Fernando Aroni (Aconadiysh): “Áreas sagradas estão ameaçadas. Indígenas são assassinados. O Estado precisa agir urgentemente.”

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