Apesar da desaceleração do índice nacional de inflação em abril de 2025, a capital acreana seguiu na contramão. Enquanto o Brasil registrou uma variação de 0,43% no IPCA, Rio Branco apresentou inflação de 0,55%, a maior entre todas as capitais pesquisadas pelo IBGE. O principal fator por trás do avanço local foi o grupo Transportes, que, sozinho, respondeu por 43,29% da inflação do mês.
Dois itens foram decisivos para essa pressão: automóveis novos, com impacto de 0,141 ponto percentual, e passagens aéreas, com 0,094 p.p. Esses dois produtos concentraram quase metade de toda a inflação do mês. Os reajustes refletem uma combinação de aumento da demanda, pressões de custo e sazonalidades do setor.
Além do transporte, o grupo “Saúde e Cuidados Pessoais” também teve forte influência sobre o índice. O reajuste anual dos medicamentos provocou aumentos acima de 2% em produtos como analgésicos, elevando o impacto do grupo para 0,14 p.p., o equivalente a 25% da inflação do mês.
Outro destaque foi o grupo “Vestuário”, com alta de 0,95% e impacto de 0,06 p.p., refletindo reajustes sazonais em roupas e calçados. Embora tenham menor peso na cesta, esses aumentos reforçam a percepção de uma inflação mais espalhada entre os diferentes setores de consumo.
Esse quadro de disseminação dos aumentos é confirmado pelo Índice de Difusão da Inflação (IDI), que atingiu 65,83% em abril — o maior valor desde dezembro de 2024. Isso significa que mais de 65% dos itens do IPCA registraram aumento de preços, dificultando o controle inflacionário por parte das autoridades econômicas.
Apesar do avanço em alguns grupos, houve também alívio de preços em alimentos básicos, como o arroz (-0,084 p.p.) e a banana prata (-0,017 p.p.), além de quedas em serviços como conserto de automóveis e em itens de menor demanda, como móveis e roupas específicas. No entanto, essas reduções não foram suficientes para neutralizar a alta nos setores de maior impacto.
Mesmo com a inflação nacional em desaceleração, Rio Branco exibe uma maior sensibilidade a choques locais, como oscilações em tarifas e volatilidade de commodities. Os núcleos de inflação — medidas que excluem os itens mais voláteis — apresentaram aumento médio de 0,60% em abril, sinalizando risco de persistência inflacionária no médio prazo.
Frente a esse cenário, o Banco Central optou por manter a taxa Selic em 14,75% ao ano, reforçando o tom contracionista da política monetária. Ainda assim, o governo federal se mostra otimista. Em recente declaração, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a inflação deverá ceder ao longo do ano, encerrando 2025 abaixo das expectativas iniciais do mercado.
Com variações tão concentradas em poucos itens, mas com efeitos generalizados, o caso de Rio Branco evidencia a necessidade de políticas públicas mais atentas às especificidades regionais, para evitar que choques localizados se tornem problemas persistentes para o bolso do consumidor.
Embora o IPCA de Rio Branco reflita parcialmente as oscilações de preços na Capital, ele ainda está longe de representar com precisão a realidade econômica vivida por grande parte da população acreana. Afinal, qual é a inflação sentida em municípios como Santa Rosa do Purus, Jordão ou Mâncio Lima? A ausência de dados locais limita o entendimento das dinâmicas de custo de vida no interior do estado.
É verdade que a construção de um índice de preços ao consumidor com abrangência municipal ainda está distante no contexto acreano. No entanto, há alternativas viáveis. Prefeituras e o próprio governo estadual poderiam iniciar levantamentos regulares de preços dos itens que compõem a cesta básica local.
Em Assis Brasil, por exemplo, coordeno um projeto no qual estudantes do curso de Economia realizam mensalmente a coleta e a divulgação desses dados. Trata-se de uma iniciativa de baixo custo e alto retorno informativo. Se há recursos públicos para promover eventos e shows, certamente há margem para financiar ações que forneçam informações econômicas relevantes à sociedade.
Caso você tenha vontade de explorar em maior profundidade os resultados da inflação de abril em Rio Branco, o relatório completo está disponível em: https://zenodo.org/records/15377114.
(Artigo do Professor Doutor Rubicleis Gomes da Silva, da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Acre)