Charque caseiro de “Seu João” ganha espaço nas feiras de Rio Branco

Com gado criado no pasto e técnicas passadas de pai para filho, agricultor do Ramal Espinhar transforma a carne em charque artesanal e conquista clientes nas feiras de Rio Branco.

No Ramal Espinhar, zona rural de Rio Branco, entre cercas de arame farpado e o cheiro forte da mata acreana, vive seu João Nascimento, de 63 anos. Agricultor desde menino, ele aprendeu com o pai a fazer charque — a carne salgada e seca ao sol, que há décadas sustenta famílias inteiras no interior do Acre.

“Quando eu era pequeno, a gente não tinha geladeira. A carne tinha que durar, então a gente salgava, pendurava no varal e deixava o vento e o sol fazerem o trabalho deles”, conta seu João, com as mãos calejadas e firmes enquanto corta tiras de carne fresca no terreiro de casa.

A produção dele é 100% artesanal. O gado é criado no próprio pasto, sem ração industrializada. Depois do abate, a carne é desossada, salgada com sal grosso e pendurada em varais de madeira cobertos com tela, protegida de moscas. O processo leva de três a cinco dias, dependendo do tempo. “Quanto mais sol, mais rápido fica no ponto”, explica ele.

O charque de seu João é vendido nas feiras do Calafate e do bairro Seis de Agosto, onde já tem clientela fiel. “O pessoal gosta porque é carne ‘sem veneno’, carne de verdade. O segredo tá no capricho”, diz ele, com orgulho.

Apesar das dificuldades — como a falta de apoio técnico e as longas distâncias até a cidade — seu João mantém viva uma tradição que resiste ao tempo. E sonha alto: “Quero ver esse meu charque com etiqueta, vendendo nos mercados. Já pensou?”

Enquanto isso não acontece, ele segue no compasso do sol e da faca, produzindo com paciência o que aprendeu com o pai e espera ensinar aos netos.

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