Alta da Selic para 14,25% pressiona o agronegócio e desestimula investimentos produtivos

Alta dos juros desestimula o investimento no agronegócio e compromete o crescimento de um dos setores mais estratégicos da economia brasileira

O Banco Central do Brasil anunciou nesta semana a elevação da taxa Selic para 14,25% ao ano, um aumento de 1 ponto percentual em relação ao patamar anterior. A decisão, que NÃO surpreendeu ninguém, tem implicações diretas sobre a economia como um todo, especialmente sobre o setor do agronegócio. Ao encarecer o crédito e tornar aplicações em renda fixa mais atrativas, a alta da Selic desestimula investimentos produtivos e ameaça a expansão de um dos principais motores da economia brasileira.

A taxa Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controle da inflação. Contudo, ao ser elevada, ela encarece o custo do dinheiro, ou seja, torna mais caro tomar empréstimos e financiamentos. No agronegócio, onde grande parte da produção depende de crédito para aquisição de insumos, máquinas e tecnologias, esse aumento representa um obstáculo significativo à manutenção e ampliação da produção.

Com o crédito rural mais caro, pequenos e médios produtores são os mais afetados. Muitos já enfrentam dificuldades para acessar financiamentos em condições favoráveis e, com a nova Selic, o custo de produção tende a subir, comprometendo margens de lucro e a capacidade de investimento no campo.

Além disso, a elevação da Selic torna aplicações financeiras em renda fixa, como títulos do Tesouro Direto, mais atrativas. Com isso, há uma migração natural de recursos que poderiam ser destinados ao investimento produtivo – como na ampliação de lavouras, aquisição de tecnologias ou abertura de novas frentes de produção – para aplicações de menor risco e retorno garantido.

Essa mudança no comportamento dos investidores afeta toda a cadeia do agronegócio. Menores investimentos significam menos inovação, menor produtividade e, a médio e longo prazo, perda de competitividade nos mercados nacional e internacional. Em um momento em que o setor precisa se manter forte para sustentar a balança comercial, essa retração pode ter efeitos adversos sobre o crescimento do país.

Embora o controle da inflação seja necessário, é preciso ponderar os efeitos colaterais de uma política monetária restritiva. No caso do agronegócio, que já lida com desafios climáticos e logísticos, a elevação da Selic representa mais um fator de pressão, podendo frear o avanço tecnológico e a capacidade de geração de empregos no campo.

A elevação dos juros também influencia os custos logísticos e de armazenagem, impactando diretamente o escoamento da produção. Com financiamentos mais caros, empresas do setor podem postergar investimentos em infraestrutura, como armazéns e frotas, o que compromete o planejamento e a eficiência da cadeia produtiva.

Produtores e representantes do setor agropecuário têm demonstrado preocupação com a decisão do Banco Central. Muitos defendem a criação de linhas de crédito subsidiadas e políticas específicas que preservem o acesso ao financiamento rural, mesmo em um cenário de juros elevados.

Em suma, embora o aumento da Selic vise conter a inflação, ele impõe uma desaceleração do crédito e desvia recursos do setor produtivo para aplicações financeiras. No agronegócio, isso significa menos capacidade de investimento, inovação e crescimento.

A alta da Selic, portanto, além de reduzir o consumo, inibe a expansão do setor que mais contribui para o PIB brasileiro. Ao encarecer o crédito e atrair capitais para a renda fixa, o país corre o risco de comprometer a vitalidade do agronegócio e sua capacidade de gerar riqueza, emprego e divisas. O Brasil é o país da renda fixa!

No presente momento, não cabe ao presidente da República criticar a elevação dos juros promovida pelo Banco Central, uma vez que a maioria da diretoria da instituição foi indicada por sua própria gestão.

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Doutor em Economia com pós-doutorado na FGV; Professor de Economia da UFAC e Tutor do PET-Economia
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