Documento interno da Confederação Nacional da Agricultura, de natureza estritamente técnica, pontua a decisão do Governo Federal de zerar a alíquota de importação de nove produtos, como forma de combater a inflação dos alimentos.
O documento não é conclusivo e não aponta um posicionamento formal da confederação em relação à medida governamental. Mas pelo detalhamento do cenário de comercialização de alguns produtos é possível construir a percepção de que, para a CNA, a decisão do governo é, na prática, inócua.
Com a carne bovina, por exemplo, a CNA lembra que o Brasil é o segundo maior produtor e o principal exportador no mundo. Com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o documento mostra que o Brasil exportou, em 2024, 53,2% da carne comercializada em escala global, comparando com os cinco maiores exportadores. Com um país com esse perfil exportador, a eliminação da alíquota de importação tem impacto quase nulo. A importação de carne no Brasil ocorre para atender ao consumidor de carne do segmento premium.
Com o café, o cenário é semelhante, com a diferença que os países produtores são em menor número e o Brasil lidera a lista. “A demanda global por café segue aquecida, com destaque para o mercado chinês”, ressalta o documento. O documento informa que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos calcula que o consumo de café na China nos últimos 10 anos aumentou 150%. A importação saltou de pouco mais de 2 milhões de sacas para uma projeção de 6,3 milhões de sacas na safra 2024/2025.
O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, uma das principais referências no país no setor agrícola, divulgou artigo em que opina sobre a medida do governo. “O que realmente tem de ser feito é uma série de medidas mais estruturais e menos conjunturais”, apontou o ex-ministro.
Sobre o estoque regulador de alimentos ficar sob a responsabilidade da Conab, a CNA, novamente, faz uma leitura técnica: “Não se encontra na lei que criou a Conab (Lei 8.029/1990), nem em seu estatuto, um comando que autorize a empresa a agir como estoques regulares com objetivo de garantir preço ao consumidor”.