“É preciso despolitizar a imagem de Chico Mendes”

O prefeito de Xapuri, Maxuel Maia, destoa dos seus pares. Não se associa aos extremistas de direita. Não é negacionista. Na economia, entende que a geração de renda na empobrecida cidade de Xapuri passa obrigatoriamente pelos incentivos que o poder público precisa oferecer ao agricultor de base familiar e aos extrativistas. Assim como expoentes da esquerda acreana, não vê contradição em fortalecer “o agro” e buscar mecanismos de proteção e preservação ambiental. A ideia da sustentabilidade é de ordem prática e rotineira no cotidiano do prefeito.

Nessa busca pelo “caminho do meio”, consegue simpatias e antipatias dos dois lados. Ao afirmar que “é preciso despolitizar a imagem de Chico Mendes”, idealiza um Chico que nunca existiu, já que as lutas do líder seringueiro só têm sentido na ordem política. Ao justificar a ausência nas mobilizações contra a Operação Suçuarana, alfineta muitos colegas do campo da direita. “Não era a minha atribuição naquele momento. Existe uma legislação ambiental. Essa legislação ambiental tem que ser cumprida. Se ela é boa ou não, o ambiente a ser discutido não é na Prefeitura, é no Congresso Nacional”.

ac24agro_ Você tem alguma dificuldade em administrar Xapuri, em função de ser “a terra de Chico Mendes”, do sindicalismo forte, da defesa da floresta, em contraponto ao fortalecimento da Agricultura. Essa polarização chega na administração pública também?

Maxuel Maia_ Pelo contrário. Ser da “terra de Chico Mendes”, ser de Xapuri, só abre portas. Agora, o que aconteceu durante muito tempo foi que politizar-se a imagem, a história e o legado de Chico Mendes. E aí, como politizou-se, o grupo que se apropriou disso, como se fosse dele, acabou gerando uma certa rivalidade, uma certa antipatia com outros grupos políticos.

E o que você tem defendido?

Eu tenho defendido que Chico Mendes é um patrimônio de Xapuri. É preciso despolitizar a imagem de Chico Mendes. Você medir Chico Mendes como sendo unicamente uma pessoa de esquerda, ou medir o legado de Chico Mendes como sendo unicamente ligado ao sindicalismo, eu chamo isso de fazer um reducionismo histórico. É você reduzir a história, o legado de alguém que é muito maior. Quanto municípios podem dizer que são “terra de Chico Mendes”? Só Xapuri. Eu participei esse ano de vários eventos, com a COP 30, Salão Internacional do Turismo. E quando você chega lá e fala que você é de Xapuri, da “cidade de Chico Mendes”, as pessoas se abrem. E quando as pessoas se abrem, as portas tendem a se abrir também.

Não há uma contradição, portanto, entre os métodos do “agro” com a defesa da floresta?

Não há. A cultura do café e a cultura do cacau são exemplos disso. É perfeitamente possível você produzir, preservando a floresta. Não há uma relação antagônica entre desenvolvimento e preservação.

O movimento ambientalista com o qual você teve contato na COP30 entende a necessidade dos municípios?

Eu vejo a COP e os movimentos ambientalistas discutindo essas pautas de uma forma muito macro. É claro que há uma importância gigante e nós precisamos desses movimentos. A conferência do clima é um evento global e de muita importância para o futuro do planeta. Agora, eu pude vivenciar a Conferência do Clima sob uma outra perspectiva.

Qual?

A perspectiva de um prefeito de uma pequena cidade do interior da Amazônia Legal.

E isso chocou?

Isso chocou. Porque eu fiz questão de falar: “Olhem… o discurso aqui é muito macro!”. Para onde você se virava na COP30, tinha gente falando de ‘bilhões! bilhões!’ “Tem que interiorizar esse debate. Tem que interiorizar esses recursos. Quantos milésimos disso estão chegando nos municípios?”, eu perguntava. Porque os municípios precisam. As pessoas precisam. Ninguém vive no Estado. Ninguém vive na União. As pessoas vivem nos municípios. A gente precisa fazer com que esses recursos cheguem a quem vive lá no interior da floresta. Se ele tiver oportunidade, se ele tiver qualidade de vida, se ele tiver um Estado que não serve só para cobrar, só para punir, mas também apresenta viabilidade para que ele tenha uma vida digna, ele vai derrubar para quê? Vai queimar pra quê? Ele vai destruir o lugar em que ele vive pra quê? 

Você percebe algum esforço dos bancos para superar os desafios postos nessa relação entre produzir com sustentabilidade?

Percebo a estrutura financeira para ampliar essas linhas de crédito dentro da reserva e diminuir um pouco esses desafios. E percebo também uma melhor vontade dos próprios órgãos fiscalizadores. Há até pouco tempo atrás, era inimaginável termos linha de crédito para produzir dentro da reserva. Hoje, a gente já consegue junto ao ICMBio, inclusive, para fazer o que há até pouco tempo atrás era inimaginável, como cavar tanque para criação de peixe. Eu acho que é preciso ter bom senso. É preciso sair dos escritórios de Brasília. É preciso vir para dentro da floresta. É preciso vivenciar.

Na época da Operação Suçuarana, eu vi várias lideranças políticas de partidos da direita, ligados ao campo político ao qual você pertence, inflamando os moradores da reserva contra o ICMBio. Eu não vi você lá. Por quê? 

Porque eu não faço política com a desgraça alheia. Esse é um primeiro ponto. Eu trato esse assunto de uma forma muito séria. Não era a minha atribuição naquele momento. Existe uma legislação ambiental. Essa legislação ambiental tem que ser cumprida. Se ela é boa ou não, o ambiente a ser discutido não é na Prefeitura, é no Congresso Nacional, verificando a corrigindo. Se os limites, as demarcações da nossa reserva estão equivocadas. Aqui também não é o ambiente para se discutir isso. É no Congresso Nacional. Eu trato a política de forma muito séria. Eu não sou oportunista. Eu sabia que se eu fosse ali para aquelas manifestações, a minha presença, o que eu falasse, o que eu fizesse lá, não teria resultado prático nenhum. Seria unicamente para fazer politicagem. E isso não combina comigo. Não é algo que eu defenda. Não é algo que eu admire dentro da política. Ali eram decisões judiciais que estavam sendo cumpridas, baseadas em uma legislação, que é uma legislação federal. E que aquele não era um ambiente como um político como eu, chefe do Executivo Municipal.  

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