Por trás de toda inovação, há sempre a dúvida sobre quem arcará com os custos. No caso da rastreabilidade bovina, não é diferente. Lançado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em 2023, o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB) pretende revolucionar o controle sanitário e comercial da pecuária brasileira ao rastrear, individualmente, todo o rebanho nacional até 2033 — o maior rebanho comercial do mundo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 238 milhões de cabeças de gado, distribuídas entre propriedades de diferentes portes e sistemas de produção. A maior parte, porém, está nas mãos de pequenos e médios produtores, o que torna a implantação do programa um desafio complexo e de alto custo.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que a inclusão desses criadores é um dos principais obstáculos para o sucesso do plano. O investimento necessário em brincos eletrônicos, equipamentos de leitura e registro de dados pode pesar no orçamento de quem trabalha com margens apertadas, especialmente nas regiões mais distantes dos grandes centros.
Apesar das dificuldades, especialistas afirmam que a rastreabilidade é inevitável e representa um avanço importante para a competitividade da carne brasileira. O sistema permitirá acompanhar a origem e o histórico sanitário dos animais, fortalecendo a imagem do país nos mercados internacionais e atendendo às exigências de países importadores que priorizam produtos com garantia de procedência e sustentabilidade.
Além dos ganhos comerciais, o PNIB também deve aprimorar o controle de doenças e a gestão do rebanho, facilitando o trabalho de vigilância sanitária e a adoção de práticas mais sustentáveis. Ainda assim, o ritmo de adesão tende a ser lento, especialmente entre pequenos pecuaristas que dependem de apoio técnico e financeiro para se adequar às novas regras.
O governo federal promete oferecer ferramentas digitais e incentivos para facilitar a transição, mas o setor ainda cobra definições claras sobre o custeio e sobre a integração das bases de dados entre estados e instituições.
Se bem executado, o plano pode colocar o Brasil na vanguarda da rastreabilidade global. Porém, até lá, o desafio será equilibrar inovação, custo e inclusão, garantindo que o avanço tecnológico alcance também os produtores que estão na base da pecuária nacional.
No Acre, o principal desafio a ser superado guarda relação com a regularização fundiária e com a regularização ambiental. A maior parte dos pecuaristas tem até 100 cabeças de gado em uma propriedade ainda não reconhecida formalmente, onde pratica a pecuária de cria. Dessa forma, a rastreabilidade, como instrumento de exigência mercadológica, fica comprometida no Acre. Caso seja aplicada, da forma e no ritmo como a política fundiária e a regularização ambiental estão sendo executadas no Acre, a rastreabilidade pode travar a atividade pecuária na região.
Fonte: Agro Estadão.
