Cadeia produtiva do leite vive pior crise e laticínios avaliam medidas

Associação Acreana de Supermercados assegura que o segmento não prioriza compra de laticínios locais em função da insegurança que os produtores geram ao não atender a demanda. Em uma estimativa conservadora, o consumo pode ultrapassar os 60 mil litros diários, incluindo o volume que passa formalmente por inspeção

Os cinco maiores laticínios do Acre estão vivendo uma das maiores crises do segmento. A situação é grave e parte dos mais de 100 funcionários que trabalham diretamente nas unidades de beneficiamento corre grave risco de ser demitida.

De acordo com o diretor financeiro da Coopel, Francisco da Silva, o “Xixico”, o custo de produção do queijo, por exemplo, varia entre R$ 30 a R$ 31. E os supermercados locais, segundo o diretor, querem comprar a R$ 27. “Como é que eu vou produzir um queijo entre trinta e trinta e um reais e vender a vinte e sete? Não há condição de sustentar essa situação”, contabiliza.

A quantidade de leite inspecionado consumida diariamente no Acre é de 35 mil litros. Caso inclua-se os leites de caixinha (UHT), o consumo pode ultrapassar os 60 mil litros. É o número estimado pelo presidente da Associação Acreana de Supermercados, Ádem Araújo. “A gente não conta com a produção local, sobretudo no inverno”, afirmou o empresário. “Enquanto se vende mil unidades de leite de caixinha, são vendidas cinco unidades de leite ‘barriga mole’, o leite de saquinho. Sem contar os saquinhos que se rasgam”.

O diretor da Coopel credita ao Governo Federal parte da responsabilidade pelo atual cenário. A intervenção do Estado ao zerar a alíquota de importação de leite e produtos derivados como instrumento para diminuir a inflação dos alimentos em março deste ano é, na avaliação do diretor da Coopel responsável por essa invasão de leite “de fora”.

“O leite da Argentina e do Uruguai importado pelo Brasil concorre com as indústrias do Sul e Sudeste. E parte da produção que seria consumida nessas regiões vem pra cá”, avalia. “Sem contar as produções de Rondônia e Goiás. Rondônia, por exemplo, produz dois milhões de litros de leite por dia”.

O médico veterinário e professor da Ufac Eduardo Mitke discorda da avaliação do diretor da Coopel. Em recente entrevista concedida ao programa ac24agro, falou que o produtor de leite precisa “desmamar” das políticas públicas e valorizar mais a gestão na cadeia produtiva do leite, das propriedades agrícolas às cooperativas.

Sobre essa questão da interferência do Governo Federal na alíquota de importação, para o professor, não há impacto. “Influência zero para nós aqui”, afirmou.

Propriedades têm baixo capital instalado

O perfil do produtor de leite do Acre mudou pouco, comparado à rotina que tinha quando o Acre era protegido pelo isolamento rodoviário, antes da abertura da BR-364 para Rondônia: propriedades com baixo capital instalado, manejo de pastagens de baixa intensidade e falta de infraestrutura.

O problema do plantel com genética ruim é algo questionado por quem estuda o assunto. “A genética é a cereja, é o refino. É importante? É claro que é importante. Mas não é por não ter uma excelente genética que nossa bacia leiteira está assim. Há problemas mais básicos, como, por exemplo, melhorar aquilo que a vaca come. Melhorar a pastagem”, afirmou o professor Mitke.

A infraestrutura também é outro gargalo importante, embora em regiões como o triângulo leiteiro do Baixo Acre (Senador Guiomard, Plácido de Castro e Acrelândia), a situação tenha melhorado no geral.

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