O Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre retomou uma série de estudos sobre economia regional. O primeiro faz relações entre a execução do programa de distribuição direta de renda Bolsa Família com a geração de empregos formais. A análise mostra, em números, o que se vê na prática: a vulnerabilidade dos municípios em relação ao programa federal. Há cidades em que existem mais de 40 beneficiários do Bolsa Família para cada emprego formal gerado.
O economista que assina o estudo, Rubicleis Gomes da Silva, alerta para um cuidado necessário ao se avaliar os números. “Quando se observa a importância do Bolsa Família na economia local, em nenhum momento, chega-se à conclusão de que o programa cria ‘dependência’ ou que o programa é um instrumento de formação de preguiçosos”, aponta o professor da Ufac. “O Bolsa Família é um alento para a economia acreana”.
O acadêmico faz uma provocação. “Quando você observa os números do Bolsa Família, você precisa se fazer a seguinte pergunta: ‘e se tirar o programa? Com as nossas atuais atividades econômicas, com a nossa atual formação de mão de obra, nós conseguiríamos gerar postos de trabalho suficientes?’ Tenho minhas dúvidas, sobretudo no curto prazo”, afirmou, antes de concluir. “O Bolsa Família está salvando a economia acreana”.
O professor coordena um trabalho de monitoramento do custo da cesta básica no município de Assis Brasil. Nas diversas visitas que faz à área urbana constata que nos dois supermercados da cidade formam-se filas de consumidores somente nos dias de pagamento do programa federal. “O empresariado precisa repensar essa forma de avaliar o Bolsa Família”, sugere.
Estudo cria dois indicadores: Índice de Vulnerabilidade Municipal e o Hiato Sociolaboral
O estudo do Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre criou dois indicadores: o Índice de Vulnerabilidade Municipal e o Hiato Sociolaboral.
O Índice de Vulnerabilidade Municipal “expressa quantos beneficiários do Programa Bolsa Família existem para cada trabalhador empregado formalmente (CLT) em determinado município, permitindo identificar territórios com maior pressão sobre o mercado de trabalho formal e, consequentemente, maior dependência de políticas de assistência social”, explica o estudo.
O Hiato Sociolaboral “é uma medida desenvolvida para avaliar o descompasso entre inserção produtiva formal e dependência de políticas sociais em cada município do Acre”, diz a publicação. Quanto maior o hiato sociolaboral, maior a dependência do programa de distribuição direta de renda.
Lendo a tabela de IVM
Vamos pegar um município para ler o que o IVM diz. Vamos ler o comportamento do município de Santa Rosa do Purus. O que diz a tabela? A tabela mostra que no município de Santa Rosa do Purus, no ano de 2022, havia 43,62 beneficiários do Bolsa Família para cada emprego formal gerado. No ano seguinte, a situação piorou: tinham 44,82 beneficiários do Bolsa Família para cada emprego formal gerado. Em 2024, o quadro piorou mais ainda: aumentou para 45,27 beneficiários do Bolsa Família para cada emprego gerado. A leitura tem que ser feita desta forma.
Quadro é mais grave no Juruá
É preciso fazer uma diferenciação. O estudo do Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre usa como divisão espacial o que estabelece o IBGE. Portanto, o “Vale do Juruá” expresso aqui não acompanha a divisão feita pelo Governo do Acre.
A Mesorregião Vale do Juruá abarca os municípios de Feijó, Jordão, Tarauacá, Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo.
Na Mesorregião do Vale do Juruá, o IVM é maior nos municípios de Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Mâncio Lima e Jordão.
Na Mesorregião do Vale do Acre, os municípios mais graves são Santa Rosa do Purus, Manoel Urbano e Assis Brasil. A situação vem se agravando no recorte temporal feito pelo economista (2022 a 2024) em Santa Rosa do Purus. Nos demais, há oscilações.
O Hiato Sociolaboral praticamente acompanha a mesma configuração geral. Rio Branco apresenta indicador negativo porque é o município em que há maior geração de emprego formal.