O café voltou a ter aroma forte no Acre. Depois de décadas de instabilidade, a cultura está retomando espaço e se consolidando como uma das principais apostas da agricultura familiar organizada, especialmente no Vale do Juruá. De acordo com levantamento do professor Orlando Sabino, do curso de Economia da Universidade Federal do Acre (UFAC), o estado deve colher 4.921 toneladas de café em 2025, o que representa alta de quase 60% em relação ao ano anterior.
O avanço é resultado direto do trabalho de produtores que encontraram no cooperativismo um caminho de fortalecimento. A Coopercafé, sediada em Mâncio Lima, reúne 173 cooperados e é responsável por metade da produção estadual. Com apoio de instituições como Sebrae, Senar, Embrapa e UFAC, a cooperativa vem ampliando a área cultivada, investindo em qualidade e levando o café acreano a novos mercados.
“O café se tornou um exemplo de agricultura familiar que deu certo. É uma produção organizada, sustentável e com forte participação comunitária”, explica Sabino.
Um produto com identidade acreana
Em 2025, a Coopercafé deve colher entre 35 e 40 mil sacas de café, consolidando Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul como polos emergentes de produção. A bebida acreana vem conquistando reconhecimento nacional e, em 2024, chegou a receber destaque em concursos de qualidade, reforçando o potencial da região para competir em mercados especializados.
Segundo Sabino, o desempenho do café representa uma virada positiva na agricultura local. A cultura passou de 1.300 toneladas em 2013 para quase 3 mil em 2023, um crescimento de mais de 100% em dez anos. O resultado coloca o Acre em posição de destaque na Amazônia Ocidental, como um dos estados que mais ampliaram sua área produtiva.
Sustentabilidade e inclusão
O modelo do café no Juruá tem se diferenciado por unir produção de qualidade, cuidado ambiental e valorização social. Boa parte dos produtores trabalha com sombreamento natural, preservando espécies nativas e adotando práticas de baixo impacto ambiental. Além disso, o cooperativismo tem permitido melhor acesso ao crédito, capacitação e comercialização coletiva, gerando renda para centenas de famílias.
“O café mostra que é possível crescer sem excluir. É uma alternativa concreta para fortalecer a agricultura familiar e gerar riqueza de forma equilibrada”, afirma Sabino.
O futuro da cultura
Com o apoio técnico e o interesse crescente de novos produtores, a expectativa é que o café se consolide como uma das principais cadeias produtivas do Acre até o fim da década. Para Sabino, o desafio agora é garantir que esse crescimento seja continuado e sustentável, mantendo o foco na qualidade e no fortalecimento das cooperativas.
“O sucesso do café no Juruá é uma amostra do que o Acre pode alcançar quando une conhecimento, cooperação e vontade de inovar”, conclui o professor.