O Acre tem uma política agrícola?

Entre ciclos da borracha, pecuária e extrativismo, Acre nunca consolidou uma política agrícola estável e enfrenta dilemas para o futuro.

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História econômica do Acre mostra avanços pontuais, mas ausência de uma política agrícola estável.

A História Econômica do Acre é cheia de percalços. Viveu momentos de solavancos, principalmente nos dois ciclos da borracha. O primeiro Ciclo da Borracha (final do século XIX até o período pré-Grande Guerra) e o Segundo Ciclo da Borracha em plena Segunda Guerra Mundial.

Outra topada para frente só veio ser sentida já no início dos anos 70, com o Acre sendo vendido aos “paulistas” com a retórica de ser um “Nordeste sem seca e um Paraná sem geada”, na propaganda oficial do governador Wanderley Dantas.

A partir desta referência criada por “Dantinha”, essencialmente, o Acre vive o mesmo dilema: o extrativismo em contraponto à pecuária. Há roupagens novas, claro: há o neo-extrativismo e há a inserção da agricultura de base empresarial com evidente impacto na balança comercial e pouca capilaridade social.

Na sequência de Dantas, veio o Barão Mesquita, com a criação dos famosos Núcleos de Apoio Rural Integrado. Foi o momento em que o agricultor de base familiar teve algum espaço na agenda pública. Foram os anos áureos de atuação do Incra no Acre. Após o Barão Mesquita, no aspecto econômico, o que virá é a experiência da Frente Popular do Acre com a tentativa de reinserção da economia florestal em novas bases produtivas e tecnológicas. Foram três governadores na sequência: Jorge Viana, Binho Marques e Sebastião Viana.

O leitor vai observar que, entre esses períodos citados há lacunas temporais graves. No Entre-guerras, por exemplo, são 21 anos. Entre o fim da Segunda Guerra e o ano em que Dantas chega ao poder, são mais 26 anos. Essas lacunas foram vazios econômicos? A rigor, não. Foram períodos de algum avanço nas políticas de urbanismo e projetos econômicos fomentados quase exclusivamente pela União.

Com um detalhe: até os anos 50, aproximadamente, os experimentos de ordem econômica induzidos pela União por aqui tinham, na prática, apenas Rio Branco como foco. O “governo” era um bicho muito distante, por exemplo, na Cruzeiro do Sul dos anos 30, 40, 50. O raciocínio pode ser estendido para os poucos núcleos urbanos que haviam, como Sena Madureira, Xapuri, Brasiléia. O acreano vivia no interior por teimosia mesmo.

Com o perdão do espaço e da pressa, essas referências históricas superficiais são importantes para que se perceba como não há, na História do Acre, uma “Política Agrícola” clara, periódica. Pode-se dizer, sem exagero, que houve em dois momentos: nos governos do Barão Mesquita e no período da Frente Popular. Foi quando a ideia de “Política Agrícola” melhor se aproximou da estabilidade, no que se refere à gestão. Não se está querendo aqui julgar a eficácia da ação de governo. Dito de outra forma: poderia-se discordar do rumo dado, mas havia um rumo.

Atualmente, há alguma diretriz para a área agrícola? Os economistas ironizam que o Acre não tem finalizada sequer uma Matriz Insumo Produto, um sistema contábil que mostra uma espécie de “radiografia” do perfil da economia de um lugar.

Qual é a agenda agrícola/extrativa do Acre hoje? Pecuária, soja, milho, café, cacau, açaí, farinha, castanha, madeira. Cada um desses produtos com problemas específicos, com destaque para a pecuária, a soja e o milho e o problema dos embargos ambientais. Pouca coisa além disto tem pautado a rotina do governo e da iniciativa privada local. A História Econômica do Acre atual está resumida neste pobre parágrafo. Se não se sabe nem o que se fazer hoje com impacto para os próximos 5 anos, com quais referências é possível investir pensando para os próximos 50 anos?

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