MDA critica falta de investimentos na bacia leiteira do Acre

Para Cesário Braga, o maior entrave ao desenvolvimento da agricultura familiar no Acre é a baixa oferta de assistência técnica qualificada

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Foto: Sérgio Vale

O coordenador do escritório estadual do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Cesário Braga, foi entrevistado na tarde desta terça-feira, 29, pelo ac24agro, durante a 50ª edição da Expoacre. Na ocasião, ele falou sobre as ações do governo federal voltadas ao pequeno produtor, com foco na agricultura familiar e no fortalecimento do crédito rural.

Braga iniciou explicando que o atual governo tem promovido mudanças estruturais na política agrícola, destacando a reativação do Ministério do Desenvolvimento Agrário. “O governo do presidente Lula dividiu as portas. Antes, pequenos e grandes produtores buscavam o mesmo caminho, e a chance do grande ser atendido era sempre maior. Com o novo modelo, o agronegócio continua importante, mas a agricultura familiar passou a ter sua própria porta, seu próprio ministério, com estrutura fortalecida”, afirmou.

Segundo ele, o MDA passou a concentrar ações específicas voltadas ao pequeno produtor, com destaque para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e os programas de regularização fundiária. “A agricultura familiar também gera emprego, riqueza e, como todos sabem, é quem coloca comida na mesa do povo brasileiro”, disse.

Plano Safra e microcrédito para o pequeno produtor

Braga enfatizou o impacto do Plano Safra para os agricultores familiares no Acre. “Rodamos mais de R$ 500 milhões no último ciclo do Pronaf, somente no estado. Isso representa investimento direto em aquisição de matrizes para gado de corte e leite, construção de currais, cercas, lavouras e acesso ao microcrédito. É um avanço real”, explicou.

Ele destacou ainda o microcrédito orientado como uma das ferramentas mais acessíveis. “É para quem tem renda anual abaixo de R$ 50 mil. O crédito é de R$ 12 mil, com juros de apenas 0,5% ao ano. Se o produtor paga em dia, ainda tem 40% de desconto na parcela. Isso significa pegar R$ 12 mil e pagar cerca de R$ 7 mil. É um crédito pensado para o pequeno realmente produzir”, detalhou.

O gado como poupança e a necessidade de fortalecer a cadeia do leite
Braga defendeu que o gado continua sendo uma das atividades mais estratégicas para o pequeno agricultor. “O boi é a poupança do agricultor familiar. Quando há um aperto, ele pode vender um bezerro e resolver um problema imediato. A lavoura nem sempre dá esse retorno rápido”, argumentou. “Por isso, defendo que o produtor crie mais gado. Isso aumenta sua renda e melhora sua vida.”

Foto: Sérgio Vale

Críticas à gestão municipal e apelo por modernização

O coordenador também criticou a falta de investimentos da Prefeitura de Rio Branco no setor leiteiro. “O prefeito Tião Bocalom prometeu muito e não cumpriu em seu primeiro mandato. Agora está falando de outra cultura, mas deixou pendências anteriores. Acredito que investir na bacia leiteira seria mais eficiente”, avaliou.

Ele apontou que o maior desafio da cadeia do leite no Acre é a falta de modernização da indústria de transformação. “Tentei articular com a Copel e com o secretário Aberson para garantir a compra de leite longa vida dos nossos agricultores pela merenda escolar. Mas precisamos que o empresariado e as cooperativas também invistam nesse processo”, afirmou.

“O setor produtivo precisa se reorganizar”

Por fim, Braga defendeu que é preciso uma “sacudida” no setor produtivo do estado. “Ainda há muito caminho a ser percorrido. Vejo muitos puxando para seu próprio lado, mas o Acre é pequeno demais para tanta divisão. Precisamos unir esforços. Senão, tudo vira palanque”, concluiu.

O coordenador estadual do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Cesário Braga, abordou a relação entre os investimentos do governo federal e a atuação de governos locais, destacando avanços, omissões e desafios enfrentados pela agricultura familiar no Acre.

Braga criticou o que considera uma tentativa, por parte de algumas prefeituras, de invisibilizar as ações do governo Lula no estado. Segundo ele, apesar de vários investimentos federais chegarem aos municípios, nem sempre o crédito é dado à origem dos recursos. “Muitas vezes, a política pública chega lá na ponta e o gestor local sequer menciona que aquilo é investimento do presidente Lula. Isso acontece com creches, escolas, ônibus escolares, PAC Saúde, Pacto Seleções, entre outros programas”, afirmou.

Apesar disso, ele elogiou o governador Gladson Cameli, a quem reconheceu como uma liderança que tem dado “acesso ao que é de César”. “O governador sempre reconhece os investimentos do governo Lula. Isso é inegável e mostra que há uma distinção clara de postura em relação a outros gestores locais, que preferem não citar a origem federal dos recursos. Alguns até dizem que é porque o Acre não gosta do presidente Lula”, declarou.

Relação com o governo do Estado é amistosa, mas pode ser mais eficaz

Ao comentar sobre a articulação entre o MDA e o governo estadual, Braga avaliou que a relação é positiva e facilitada, inclusive, por vínculos pessoais. “Tenho amizade com boa parte do governo do Gladson, o que ajuda nas construções conjuntas. O Acre é pequeno, e para atingir minha meta pessoal de ter um milhão de amigos, não posso arrumar briga com ninguém aqui”, brincou.

No entanto, ele ponderou que, apesar do ambiente amistoso, ainda há gargalos importantes. “Sinto falta de mais investimentos, inclusive por parte do próprio governo federal, na agricultura familiar. Tem muita coisa sendo feita, mas poderia haver mais”, destacou.

Foto: Sérgio Vale

Assistência técnica é gargalo e deveria ser prioridade

Para Cesário Braga, o maior entrave ao desenvolvimento da agricultura familiar no Acre é a baixa oferta de assistência técnica qualificada. Ele defendeu que essa deve ser uma das principais prioridades nas políticas públicas.

“Quando nos reunimos com a bancada federal, deixei claro: invistam em assistência técnica. Cada real aplicado aí se multiplica em acesso a crédito, produtividade e melhoria de vida para o agricultor”, afirmou. Ele citou que, dos mais de R$ 500 milhões movimentados no Acre pelo Plano Safra, cerca de 98% só foram possíveis graças à atuação de escritórios de assistência técnica privada. “São esses escritórios que têm feito bons projetos, que fazem o crédito girar. O governo precisa reconhecer isso e firmar parcerias para melhorar essa assistência”, sugeriu.

“O discurso do agro não acompanha o investimento”

Braga também fez críticas ao uso político do setor agropecuário, destacando que o discurso público nem sempre é acompanhado de ações concretas. “Todos gostam de subir no palanque e dizer que o agro é tudo, que o agro é top, é pop… Mas, na hora de investir na base, na agricultura familiar, o apoio é muito tímido. É nessa área que se faz menos ainda”, observou.

Segundo ele, as emendas parlamentares poderiam ter um papel estratégico no desenvolvimento do estado, caso fossem direcionadas a um modelo produtivo que favorecesse a economia local. “Cada deputado ou senador tem em média R$ 50 milhões em emendas. Mas não vemos esses recursos chegando na área produtiva como deveriam. É hora de pensar em soluções concretas, de sentar à mesa e repensar esse modelo”, concluiu.

Braga, comentou a recente Operação Sussuara, realizada na Reserva Extrativista Chico Mendes, e fez críticas à forma como a ação foi conduzida pelas autoridades ambientais.

Segundo ele, houve falhas no modo como a operação foi executada. “A forma como a operação foi feita foi um desastre. Foram até a casa do produtor, apreenderam os animais, colocaram em um curral e depois soltaram os bois no campo. O produtor acabou sendo prejudicado e reclamou, com razão, do que aconteceu”, afirmou.

Apesar da crítica ao uso da força, Braga reconheceu que a operação teve fundamento legal. “Existe uma regra, e ela precisa ser cumprida. Essa regra foi descumprida dentro da reserva, e por isso a ação foi realizada. O que precisa ser discutido é o equilíbrio na forma de aplicar a lei”, ponderou.

Ele também demonstrou empatia pelos produtores atingidos, destacando que muitos deles apenas buscam meios de sustentar suas famílias. “O morador está lá tentando produzir, cuidar da família, sobreviver. E ele está certo em lutar pelo seu sustento. Mas é preciso respeitar as regras estabelecidas para uso da terra na reserva”, disse.

Braga concluiu defendendo um diálogo mais equilibrado entre poder público e comunidades locais. “O erro não está apenas na ação ou na regra, mas na forma como se aplica a força. Precisamos encontrar caminhos que conciliem a preservação ambiental com a dignidade das pessoas que vivem e produzem nesses territórios”, afirmou.

(Texto de Saimo Martins, extraído do site ac24horas)

Assista à entrevista:

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