Acre registra alta no desmatamento e lidera crescimento na Amazônia em 2024

Estado foi o único da região a aumentar a área desmatada, contrariando a tendência de queda observada nos demais estados da Amazônia Legal

Relatório do MP afirma que crimes ambientais estão sendo cometidos por falhas de integração de informações. (Foto: SOS Amazônia/Arquivo)

O Acre foi o único estado da Amazônia Legal a registrar aumento na área desmatada em 2024. A informação consta no Relatório Anual do Desmatamento (RAD 2024), divulgado pela rede MapBiomas, que monitora as alterações na cobertura e uso do solo em todos os biomas brasileiros. Segundo o levantamento, o desmatamento no estado cresceu cerca de 30% em relação ao ano anterior, na contramão do restante da região Norte, que apresentou tendência de queda.

No total, o Brasil perdeu 812.013 hectares de vegetação nativa em 2024 — uma redução de 11,6% em relação a 2023. O bioma Amazônia, que concentra a maior parte do desmatamento nacional, teve uma queda ainda mais expressiva: 16,8%, totalizando 377.708 hectares derrubados no ano. A chamada região Amacro, formada pelos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, registrou 89.826 hectares desmatados, com queda média de 13% no comparativo anual. Porém, o Acre destoou dessa tendência.

Enquanto Amazonas e Rondônia conseguiram reduzir suas taxas de supressão florestal, o Acre avançou sobre suas áreas de floresta, contrariando metas de redução de emissões e compromissos assumidos no contexto de políticas de clima e desenvolvimento sustentável.

Especialistas ouvidos pelo MapBiomas e pelo Observatório do Clima apontam que o aumento no desmatamento no Acre pode estar ligado à fragilidade na fiscalização, avanço da fronteira agropecuária e descompasso entre discurso institucional e ação efetiva no campo. “Esse crescimento do desmatamento no Acre é um alerta. O estado precisa urgentemente rever sua política ambiental se quiser continuar sendo visto como referência em conservação na Amazônia”, afirma Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e integrante da rede MapBiomas.

Nos últimos cinco anos, o Acre vinha mantendo índices relativamente estáveis de desmatamento, ainda que com flutuações. Em 2020, por exemplo, o estado foi o 5º que mais desmatou na região Norte, com cerca de 56 mil hectares suprimidos. Agora, mesmo sem liderar em área absoluta desmatada — o Pará segue na frente com mais de 200 mil hectares por ano — o Acre figura entre os estados com pior desempenho em 2024 por ter sido o único com variação positiva no desmatamento.

A nova gestão estadual, que assumiu o compromisso de fortalecer a produção sustentável, ainda não se pronunciou sobre os dados. Representantes do setor produtivo têm pressionado por maior segurança jurídica e infraestrutura, mas também enfrentam críticas por pressão sobre áreas sensíveis, como reservas legais e territórios de uso coletivo.

Diante desse cenário, especialistas alertam para a importância de políticas públicas integradas que consigam aliar conservação ambiental com desenvolvimento econômico. O crescimento do desmatamento no Acre, ainda que não represente os maiores números em área, reforça a urgência de ação coordenada entre governo, setor privado e sociedade civil.

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