O Brasil registrou um recorde histórico no abate de fêmeas no primeiro trimestre de 2025, com mais de 47% de participação no total de bovinos abatidos no país. Esse movimento, típico do ciclo pecuário, foi impulsionado desde 2023 por fatores climáticos e mercadológicos, mas já dá sinais de saturação. A previsão é de que esse percentual comece a recuar no segundo semestre deste ano, encerrando 2025 em torno de 44,2%, com tendência de queda mais acentuada a partir de 2026, quando o setor deve iniciar um novo ciclo de retenção de matrizes para reprodução.
Com a mudança de fase, o resultado mais imediato será a redução da oferta de gado, o que deve pressionar os preços da arroba do boi gordo. Nos últimos 12 meses, a cotação acumula alta superior a 37%, refletindo o desequilíbrio entre oferta e demanda. A maior parte da carne consumida no Brasil ainda vem de açougues de bairro, que tradicionalmente trabalham com carne de fêmeas. Com a diminuição desses abates, cortes populares tendem a ficar mais caros, afetando diretamente o consumidor final.
Além disso, a menor disponibilidade de animais deve apertar as margens de frigoríficos, principalmente os de médio e pequeno porte que abastecem o mercado interno. Esses frigoríficos foram responsáveis por absorver o excesso de fêmeas no início do ano, aproveitando os preços mais baixos para driblar a valorização da arroba. No entanto, com a virada do ciclo e a expectativa de retenção de vacas para produção de bezerros, a indústria deve enfrentar maior dificuldade para repassar os custos ao varejo, o que pode gerar instabilidade na cadeia produtiva da carne bovina.