Vaocê já reparou que é raro encontrar carambola à venda nos mercados do Acre? Apesar de ser uma fruta presente em quintais, chácaras e áreas de agricultura familiar espalhadas pelo estado, especialmente em zonas de produção agroecológica, a carambola praticamente desaparece das prateleiras convencionais. O que acontece com essa fruta? Para onde vai? Quem está consumindo?
A resposta passa por um modelo de produção diferente, baseado no autoconsumo, na venda direta em feiras livres e na baixa escala. No Acre, a carambola é cultivada majoritariamente por pequenos produtores que adotam práticas sustentáveis, muitas vezes dentro de sistemas agroecológicos. Esses agricultores priorizam a segurança alimentar das próprias famílias e a comercialização em feiras locais, como a tradicional Feira Orgânica de Rio Branco (FOPNRB).
Nessas feiras, o consumidor típico da carambola é um público urbano com renda média ou alta, que busca alimentos livres de agrotóxicos e está disposto a pagar um pouco mais por produtos frescos e produzidos localmente. Segundo dados de estudos sobre o perfil dos clientes dessas feiras, a maioria tem renda mensal superior a R$ 1.000, com muitos superando a faixa dos R$ 2.000. Ou seja, trata-se de um mercado específico, ainda limitado, e com circulação restrita da fruta.
Além disso, boa parte da produção da carambola no Acre sequer chega a ser vendida: ela é consumida nas próprias casas dos agricultores, usada em receitas caseiras, sucos ou até trocada entre vizinhos — uma prática ainda comum em áreas de assentamento rural. A logística para transporte e comercialização mais ampla também representa um entrave, especialmente nas comunidades mais afastadas, onde o acesso é precário e o custo do escoamento encarece o produto.
Outro ponto é que a fruta não integra, por enquanto, cadeias produtivas organizadas ou programas de abastecimento institucional, como o PAA ou o PNAE. Também não há indústrias que processem a carambola localmente para transformá-la em polpa, geleia ou outros derivados em escala. O destino da fruta, portanto, permanece essencialmente local e familiar.
Enquanto isso, o consumidor dos supermercados fica sem acesso a essa fruta saborosa e nutritiva, produzida com cuidado por mãos acreanas. A ausência da carambola nas gôndolas reflete um desafio maior: conectar a produção agroecológica de base familiar com canais de comercialização mais amplos, sem perder o vínculo com a sustentabilidade e a valorização do trabalho rural.