O site ac24agro ouviu a pergunta “Pra que serve uma casa de farinha em Rio Branco?”, do prefeito Tião Bocalom. O questionamento retórico foi uma resposta, em tom nada amistoso, que dialoga com componentes políticos. A busca do site segue outro rumo: tenta entender os componentes econômicos.
Para isso, é preciso reforçar alguns elementos óbvios. Primeiro: o geográfico. Rio Branco não está localizada no Vale do Silício, nos Estados Unidos, e nem no Vale de Bordeaux, na França. Rio Branco está no Acre, na Amazônia, Brasil. A Geografia, portanto, molda uma Cultura. Isso frustra muita gente que sente algum constrangimento de ser daqui, de estar aqui ou de depender, de alguma maneira, daqui.
O elemento “Cultural” é necessário ser reforçado porque os números, por si, mostram um cenário de crise na produção de mandioca. Redução de área plantada, redução da produção e até mesmo o rendimento médio (que teve um pico em 2015) reduziu e se mantém estável a partir de 2018.
Para um analista que observa uma cadeia produtiva apenas com as lentes da Estatística e da Matemática, não tem dúvidas de fazer coro à fala do prefeito. Bocalom não simpatiza com a farinha. A fala dele não permite dúvidas. O prefeito é um entusiasta da fécula da mandioca. Já disse isso em outras oportunidades.
De fato, a fécula da mandioca é um subproduto do manejo do tubérculo que gera dezenas de outros produtos: pão de queijo, massa para pizzas, biscoito, pães, bolos. São dezenas de produtos. A fécula é um refino que gera demandas diretas para o setor de serviços. Agrega mais valor ao longo da cadeia produtiva.
O Governo do Acre chegou até a visitar unidades de produção de fécula de mandioca no Paraná, há aproximadamente 10 anos, mas o projeto não vingou. A parceria com iniciativa privada não teve consequências e a escala de produção para manter a unidade não dava segurança com sustentabilidade.
2008_ O ano de 2008 foi o de maior produção de mandioca em Rio Branco. Alcançou-se mais de 60 mil toneladas em quase 2,5 mil hectares de área plantada. Na sequência, houve uma queda abrupta, chegando em 2012 com com pouco mais de 10 mil toneladas, a mais baixa produção dos últimos 20 anos.
A análise dos gráficos da Pesquisa da Produção Agrícola Municipal, feita pelo IBGE, é disponibilizada para o leitor. As interpretações podem ser as mais diversas. A cautela necessária a quem está administrando a cidade precisa observar que, para além do fator Cultural, é preciso que o setor público estimule segmentos na área produtiva que sejam capazes de substituir um produto que gera renda e cria valor na zona rural, mesmo a contragosto de alguns.
Gráfico foram gerados pela Pesquisa da Produção Agrícola Municipal, do IBGE.