O problema que os fruticultores estão vivendo no Acre, sobretudo na região de Capixaba, pode ser relacionado com o problema de outra cultura, a da soja. Há pontos em comum. Com um destaque: a capacidade de armazenamento. E esse é um gargalo do setor produtivo que mistura falhas tanto do governo quanto da própria iniciativa privada.
“A culpa é minha”, costuma dizer em tom de brincadeira o secretário de Estado de Agricultura, José Luiz Tchê, para tentar explicar os problemas dos agricultores de base familiar de Capixaba. O tom da fala é leve porque traz presente a ideia de que a Seagri foi competente no apoio do que o agricultor de base familiar precisa: produzir.
Mas a fala de Tchê raciocina o setor de forma “blocada”, como se a Seagri fosse responsável apenas pela produção e não tivesse que observar o cuidado com toda a cadeia produtiva de várias culturas. A falta de uma postura integral da cadeia de produção levou ao drama porque passam os fruticultores.
Sem uma formação cooperativa sólida, os agricultores de base familiar miram para a maior cooperativa do Acre como a responsável pelo problema. A lógica é a seguinte: “a cooperativa nos estimulou a plantar e agora não quer mais comprar?”
As câmaras frias das cooperativas estão lotadas de polpas. Chegou-se a alugar câmaras frias e, mesmo assim, não foi suficiente para abarcar toda a produção, que se estraga nas lavouras e nas casas dos agricultores de base familiar.
No Brasil (e no Acre não é diferente) a cultura da soja também passa pelo mesmo problema. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê na safra 2024/2025 uma produção recorde do grão, calculada na ordem de 328,3 milhões de toneladas. Caso isso aconteça, vai faltar silos para armazenar 118 milhões de toneladas. Os números são do próprio governo, da Conab.
E a capacidade de investimento previsto é a metade do que se necessita. A Confederação Nacional de Agricultura estima que os investimentos necessários anuais são de R$ 15 bilhões na capacidade de armazenamento. Na prática, o que se investe é algo em torno de R$ 7,8 bilhões. Essa é uma responsabilidade que deveria ser compartilhada entre Governo e iniciativa privada.
E isso fica claro em parcerias que já são mantidas entre a Conab e o setor privado por meio do BNDES. A companhia federal quer aumentar em 33% a atual capacidade de estocagem calculada em 900 mil toneladas. Deve chegar a 1,2 milhão de toneladas com o reaproveitamento de armazéns ociosos nos estados de Minas Gerais, Mato grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal.
No Acre, os poucos produtores de soja que existem não esperaram pelo Governo. Apesar de o Estado ter investido na construção de silos nos últimos anos, a iniciativa privada tem ampliado a capacidade própria de estocagem, independente do apoio estatal.