O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez, minimizou o impacto do embargo da China a três frigoríficos brasileiros. Um localizado em Goiás, outro em São Paulo e um terceiro em Minas Gerais. “São apenas três em um hall de cento e vinte e seis”, afirmou. “Embora essas suspensões da China assustem um pouco por causa da nossa dependência grande de exportações pra lá, mas, nesse caso aí, todos avaliam que não haveria nenhum problema”.
Sobre os gargalos da pecuária acreana, diante desse cenário sempre sensível do comércio internacional, Veronez, voltou-se para o Acre. O ac24agro dividiu a conversa com Veronez e apresenta ao leitor:
Sobre a questão sanitária
“O que nós não podemos errar de jeito nenhum é na questão sanitária. Nós conseguimos esse status de Zona Livre de Aftosa Sem Vacinação a duras penas. Foi um trabalho muito bem feito e com muito esforço e que envolveu os pecuaristas, envolveu o governo, envolveu uma estruturação do corpo técnico do Idaf que hoje faz um trabalho muito eficiente. E os produtores também se envolveram por meio do Fundepec. Nós chegamos lá em uma situação, comparativamente, de primeiro lugar, tendo em vista que apenas Acre, Rondônia, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul desfrutam desse status. Então, os outros estados brasileiros, mesmo estados grandes, ricos e poderosos ainda estão correndo atrás dessa questão e nós já estamos como zona livre sem vacinação e alcançando agora mercados.
Balança comercial
A carne bovina já é o maior produto de exportação do Acre, em torno de 30% do que o Acre exporta hoje é carne bovina. Depois vem soja com 25%, carne suína com 20%… Então, isso demonstra a importância de trabalharmos nesse rumo, aumentando cada vez mais a eficiência e os cuidados que têm que ser tomados em relação à questão sanitária para não ter nenhum percalço de algo indesejável. Esse é um ponto fundamental.
Produtividade
Agora, tem muito a melhorar em outras áreas. Eu não canso de dizer que a vocação do Acre para a pecuária é extraordinária. É extraordinária porque é uma atividade que avança por todo estado. A vocação é boa. Chove bem, pastagem de excelente qualidade. O rebanho sendo sempre melhorado com o investimento em genética. O desempenho do rebanho hoje é muito superior. O desfrute [capacidade de gerar excedente no rebanho] é melhor: os animais hoje são abatidos bem mais novos do que eram há tempos atrás. Hoje, animais estão sendo abatidos com 24 meses, 30 meses. Isso é um ganho. Mais rapidamente é transformado em produto exportável. Tem tecnologia nova desenvolvida pela Embrapa que permite a gente reformar pastagens, recuperar área degradada com mais eficiência e menos custo, com acesso, inclusive, aos pequenos produtores.
Questão ambiental
É óbvio que nós ficamos pequenos com 15% do Estado para ser explorado economicamente e isso não vai mudar. Acho que essa questão é quase definitiva, com pequenas “arranhaduras” de pequenos desmatamentos, mas a tendência é sempre diminuir [desmatamento] e quase que zerar, mas resta uma quantidade de problemas grandes em relação ao cumprimento do Código Florestal. Nós já estamos aí desde 2012 com o Código e ainda não foi implementada uma série de coisas que a lei exige e que o mercado começa a cobrar. O frigorífico hoje não abate um boi sem verificar a situação do CAR, a situação dos embargos, de multas, daquele produtor que está vendendo boi e aí a gente encontra muito problemas. Porque a ausência do poder público em anos passados e muita gente na ânsia de aumentar suas propriedades, hoje estão com embargos, com multas, estão impedidas de comercializar seus animais e isso precisa ser resolvido. Não pode ficar do jeito que está. A estrutura da área ambiental do Estado está precisando ser reforçada para atender essa demanda com mais rapidez.
Questão fundiária
O CAR precisa ser validado e a estrutura [do Estado] é muito pequena em relação a isso. Esses embargos precisam ser resolvidos porque isso depende do Ibama e é complexo para você tirar um embargo. É uma situação que precisa ser atacada com mais eficiência e com mais reforço de ação que possa levar à legalização dessas propriedades todas que estão nessa situação. Ao lado disso, temos a regularização fundiária. Tem muitas propriedades que não têm documentos, seja em áreas federais, seja em áreas estaduais. Isso precisa ser resolvido. O Estado brasileiro o que tem sido feito com relativa eficiência por causa dos instrumentos técnicos de muita precisão para fiscalizar e punir os produtores… mas o dever de casa deveria ser, realmente, a regularização fundiária, mesmo nos projetos de assentamento. A grande maioria estão sem os seus documentos. Isso precisa ser resolvido. O Estado permitiu que as pessoas ocupassem e agora não tem documento. O Iteracre tem que avançar mais. Há uma série de regiões que estão pendentes disso e isso não pode continuar. As pessoas não têm acesso a crédito, não têm acesso a nada. Ficam em uma situação de penúria porque não têm o documento da terra.