Produção de açaí no interior paulista deve acender sinal de alerta no Acre

Por enquanto, São Paulo está com apenas 80 hectares plantados. Sem ter como concorrer com o Pará, o maior produtor da fruta no país, a produção paulista pode ser ameaça a estados como o Acre, com baixo capital instalado e com produtores dependentes das ações do poder público. Ceará também entra na cadeia produtiva do açaí

Itaan Arruda

O açaí começa a ser produzido no interior de São Paulo. Reportagem do Globo Rural, produzida nesta terça-feira (11), mostra como a região de São José de Rio Preto, localizada no noroeste do estado, iniciou o plantio. Por enquanto, 13 propriedades ensaiam interesse. Até fevereiro de 2026, informa a reportagem, São Paulo tinha área cultivada totalizando 80 hectares apenas.

A questão é: diferente do produtor acreano, o produtor paulista é capitalizado. Normalmente, já tem uma propriedade com instalações e equipamentos que apenas necessitam de ajustes para se adequar à cadeia do açaí. Com produtividade estimada entre 10 a 15 toneladas por hectare e cultivo de abelhas para polinização, é possível que a região comece a abastecer regiões onde o açaí do Acre poderia entrar. A cultivar usada pelos produtores paulistas é a BRS Pai d’Égua, desenvolvida pela Embrapa Amazônia Oriental há 23 anos.

Outro estado que iniciou produção de açaí foi o Ceará. Ano passado, produziu 609 toneladas e é o nono maior produtor do país. A produção está restrita a 10 municípios. Há regiões do Ceará em que há colheita a cada 25 dias. Nesses lugares, não se pratica o extrativismo. É açaí de cultivo, com sistema de irrigação. É preciso que o produtor tenha capacidade de investimento, coisa rara no Acre. 

São Paulo e Ceará são apenas dois exemplos para que se perceba como a cadeia produtiva do açaí, aos poucos, vai se organizando e se consolidando em diversas regiões do país, com o uso de cultivares modificadas geneticamente pela Embrapa justamente para se adaptar a diferentes ecossistemas. O apelo comercial do produto força essa organização.

O cenário não passa despercebido pela diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, Perpétua Almeida. Mas ela tem uma percepção de que o apelo “Amazônia” fala mais forte na relação comercial. “Com toda franqueza, o açaí da Amazônia não vai perder sua majestade. Ele é fruto direto das mãos do produtor rural, da agricultura familiar, que vive e preserva a floresta”, avaliou a diretora. “Há hoje, no Brasil e no mundo, um público que quer consumir o que vem da Amazônia, com identidade e origem”.

Para Perpétua Almeida, “o que precisamos na nossa região e, no Acre em especial, é de apoio para industrializar essa produção, como a ABDI vem fazendo, e garantir escoamento e logística que valorizem o trabalho dos produtores. Nesse ponto, é fundamental que o governo estadual e as prefeituras também assumam protagonismo”.

José Carlos Reis, ex-secretário de Estado de Agropecuária, é um pouco mais cético em relação ao atual desempenho do Acre. Para ele, os governos deveriam investir no açaí de cultivo. Reis avalia que o açaí nativo, em função do desmatamento, está muito longe das unidades de beneficiamento, o que, na visão dele, inviabiliza a cadeia com a atual infraestrutura que se tem para o escoamento do produto.

Produtor de uma área de 10 hectares de açaí “solteiro”na Estrada do Mutum, Reis sentencia. “A gente está cochilando, falando de açaí do extrativismo, enquanto o pessoal por aí está plantando. Esse é o alerta que tenho feito”, afirmou. “A demanda mundial por açaí é enorme. A bola da vez para o Acre é o açaí”.

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